quarta-feira, 31 de março de 2010
«Musicalidade Poética II»
José M. Silva e o Clube Literário do Porto
têm o prazer de convidá-lo (a) a assistir
ao evento Musicalidade Poética II, no dia
11 de Abril, a partir das 16.00h, no piano bar.
O evento terá a participação do músico
Carlos Andrade, e das declamadoras:
Maria Emília Pinheiro e Maria José Veiga
Clube Literário do Porto
Aberto de segunda a domingo,
das 9.30h á 1.00h.
Rua Nova de Alfândega. nª22
4050-430 Porto
Tlf: 222089228
sábado, 27 de março de 2010
Clareiras do Bosque
A clareira do bosque é um centro
Em que nem sempre se consegue entrar
É um outro reino que a alma habita e guarda
Parece como que o vazio - ou o nada ou o vazio -
Que estarão presentes ou continuamente latentes na vida humana
E para não ser devorado pelo nada ou o vazio
Haverá que juntá-los num só
Centro é também o coração
Porque é o único que do nosso ser se ouve
E só por ele
Os privilegiados organismos que o têm
Se ouvem a si mesmos
Só os astros longínquos, puros,
Enquanto forem inacessíveis à sua colonização
proporcionarão a imagem real
De um ser idêntico à sua vida inocente
Como se só tivesse sido criado sem ter de nascer
Fica surdo e mudo,
Circunstancialmente, o coração
Deixa então todo o espaço às operações da mente
Que se movem assim
Sem assistência alguma
Abandonadas a si mesmas.
Maria Zambrano
quarta-feira, 17 de março de 2010
Meu Pai
Foto da autoria de Ana Filipa Silva
É lento e frio
este amanhecer
que a Março
abre as portas
ao som da música
que me atravessa o sono
e me aparece nesta
visão única, que guardo
dum tal respeito e semelhança.
A vida passa e tu não estás
procuro-te no fundo
bem no fundo de mim.
Vêem-me à lembrança
recordações daquele último dia
do teu olhar mais velho e cristalino
da água que te corria o rosto
e da ternura que jorrava em ti
o desaparecer dum sonho…
Recordo-te a cada passo
como se o passo, do passo
passasse a cada instante
em que te penso e me apareces
naquele derradeiro olhar
voltado sobre os ombros
tão profundo e sereno
na estação do teu mar.
E que seria o voltar
que te visse eu
no quanto a vista alcança
na estação do comboio
pedalando o triciclo que me havias dado…
José M. Silva
terça-feira, 9 de março de 2010
Como se estivesse apaixonado
Foto de Virgínia Pinhão (olhares)
Para quem não sabe como é
(como se escreve um poema de amor)
eu vou dizer.
Como se estivesse apaixonado
Falar desse teu corpo exagerado
Que apenas aos meus olhos ganha cor,
De um coração em mim anteestreado
Num palco onde jurei fazer-te amor.
Esculpir esses cabelos impossíveis
Que nunca mãos algumas alisaram,
Desflorar esses vales inacessíveis
Onde os outros de vésperas naufragaram.
Contar como se ardesse de desejo
As pernas de cetim que tu me abriste
E a boca que se derreteu num beijo,
Soluço de sorriso que desiste.
Dizer, porquê? Se todo o mundo sabe
Que quando se ama não se escreve
E que, então, o tempo todo cabe
Contar o resto seria apenas feio,
Sentir o que não foi, deselegante.
Falar do que te disse pelo meio
Só se não fosse homem, nem amante...
FERNANDO TAVARES RODRIGUES
(nasceu em Lisboa em 1954)
segunda-feira, 8 de março de 2010
O fogo da decadência
De repente, o fogo veio
E aos poucos o dia calou a sua voz.
O silêncio era frio
E o nevoeiro repleto de raiva e ódio
Estendeu as suas garras
Sobre o Portugal futuro.
Os clarões viam-se ali bem de perto
Mais parecia um tempo sórdido de guerra
Onde os homens caem
Abatidos pela ignorância da terra.
E nós deambulávamos perdidos
Escondidos, tontos e amordaçados.
O medo paralisava-nos as pernas
E o suor frio escorria pela face
Entristecida por tanta madrugada perdida
Quando ouvimos uma voz que dizia:
“reparem naquele fogo…
Não é uma fogueira qualquer
Nem tão pouco um fogo que arde sem se ver.
É um contentamento descontente
Que embala o corpo sofrido
Que esmaga o sonho do espírito
Nessa dor que queima até à alma
Na amargura do nosso doer.”
Sim, é uma fogueira sem brilho
Que aquece no arrepio
De quem morre até morrer.
É uma fogueira de má sorte
Que apenas conduz à morte.
Rui Fonseca em No profundo da alma lusitana
António Rui Arrepia Fonseca natural de Foz-Côa.
Licenciado em Filosofia, pela Universidade do Porto.
Inserido numa lógica universal este livro, Leva-nos
numa viagem: histórico-cultural, consciente e analítica da
alma Lusitana. Com abordagens às terras de Ofiúsa,
ao Portugal Templário, à Inquisição...
quarta-feira, 3 de março de 2010
Orgulho lusitano
Imagem retirada da net
Vivemos na memória d´outros tempos
e se tudo conquistamos tudo perdemos.
Os cantares? Esses… afagam a alma.
Entre as exaltadas e incertas ondas
a conquista de hoje, é o sangue do amanha.
O presente é quem o vê, o futuro não vale nada
a liberdade tem cancro, o amor padece de doença terminal.
Orgulho!.. Esse, o das auroras, dos feitos, sim muito!
Esses d´alma, que por si se valeram e em desencantos caíram.
De ganho. Louvores no juízo final, e uma lapide, na cova funda!..
José M. Silva
terça-feira, 2 de março de 2010
A propósito d´amor próprio...
«Á janela» Foto de Romulo Lubachesky
Passa…
Na ilusão errónea
dos sentidos
num deleitoso ego
e volúvel distúrbio
iluminando a máscara
com intuições vazias
e sentidos cegos.
Passa…
Gaivota sem asas
sem vestido nem manto
honra ou quebranto
ou brisa no mar alto.
As fontes em que se sacia
são promessas despojadas
do seu encanto.
Passa…
Despida d´amor
ao som da seda e do veludo
perdida de sóis e de luas
achada de ares de mares.
Passa…
Formosa e bela
em redor dos seus passos
com encantos e quimeras…
Talvez houvesse uma flor!
José M. Silva