Não escrevo palavras bonitas, escrevo sentimentos bonitos...!
I do not write nice words! I write beautiful thoughts ...




sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

O amanhecer descobre-nos o rosto

O amanhecer descobre-nos o rosto
olhamos hesitantes por entre as árvores
que lentamente se desnudam
revelando-nos o vernáculo vácuo
com que adormecemos e acordamos

Desolados
tentamos apagar da memória
o futuro (des) construído
o presente cativo
o passado encapuçado

Com linhas e pontos
desenhamos formas
com formas personificamos objectos
com objectos abraçamos memórias
com memórias olhamos as estrelas
e desejamos a sua luz o seu brilho

Sinto a caneta a fluir
pelo branco do papel
parcialmente coberto de azul

Os segundos (des) continuados
marcam compassos desalinhados
com uns a fazerem -se de outros
outros a fazerem -se de alguns
e alguns harpejando ponteiros gigantes

O amanhecer descobre-nos o rosto
sabemos e sentimos o peso da vida
a ausência da luz e reflectimos sobre as sombras…

José M Silva (Poema inédito)

A verdade…

Queres mesmo saber a verdade?
A verdade que jorra lágrimas e derrama sangue?!
E faz doer até as margens do teu leito
enquanto sustentas a respiração
e devoras todos os pedaços de mim
que abarcam a tua boca.

Queres saber do tempo?
Sim, esse tempo que tanto adoras,
mas que tanto abominas.
Apagou-se na crença do teu desamor
nas lembranças de mim e de ti
nas memórias de um futuro sem passado.

Por passar, passei eu! Muitas vezes.
E tu, sem te dares conta
contavas, as vezes que eu passava.
Quando adormecias com os meus olhos
e acordavas com os teus!

José M Silva (inédito)

Sim…

Sim, eu deixo-te ser
mesmo o que não és!
Devolveste-me a pergunta discreta e muda
enrolada em palavras soltas
esqueces que o silêncio colhe ecos.
Sobrevoo as mãos frias,
nas lembranças do teu rosto
e mergulho no teu ser, para poder estar.
E estou! Tu é que não queres ser.

José M Silva

Rascunho o amanhecer dos teus olhos

Rascunho o amanhecer dos teus olhos
nas folhas inconscientes que me caem aos pés.
Vejo as árvores a respirar o ar sufocante das ruas
que atravessam as pontes do teu caminho.

Os fluídos viciados
que circundam o teu hemisfério pensante
derrapam na indiferença do meu estar.

Não sei a palavra que és
nem mesmo sei a mascara que usas
quando te passeias pelas avenidas.
Só sei das palavras.
E por falar em palavras vou-te oferecer uma.
Só não sei que cor lhe dar!
Pensei no azul, mas achei-o demasiado frio.
Lembrei-me do vermelho mas achei-o demasiado quente.
De seguida ocorreu-me o branco mas achei-o demasiado neutro.

Se não te importas presenteio-te com uma palavra inefável.

José M Silva (Poema inédito)

Talvez fosse

Talvez fosse.
Sim, talvez fosse!
A nossa hora,
o nosso dia,
a nossa tarde de Setembro!
-Lembraste, dessas tardes?
O sol tardio relaxava-nos os corpos
E nós permanecíamos deitados, de mãos dadas;
de lábios colados, de olhos vidrados.
(dizendo todas as palavras que as palavras não dizem)

Tudo o que resta dessas tardes,
não passa de um sonho parado,
com imagens premonitórias de pés descalços,
modelados na areia molhada e desfeitos no rebentar das ondas.

Reparo nas fontes que endoidecem o silêncio
e canto para ti, só para ti!
Passeio pelo cais da saudade
penso nesse tempo que nunca foi nosso e pergunto!
- Queres ser o meu Setembro? - O esporão dos meus beijos?
- A luz da minha luz? - O fogo do meu fogo?
Então vem! Vem hoje, que o amanhã é água a correr.
E o amor é uma rosa, que na secura, morre!

José M Silva 19/10/2013