Não escrevo palavras bonitas, escrevo sentimentos bonitos...!
I do not write nice words! I write beautiful thoughts ...




domingo, 24 de janeiro de 2010

Poesia.com (poetas alheios)


Foto de Paulo Vieira (olhares)

CARTA DE AMOR


Para te dizer tão-só que te queria
Como se o tempo fosse um sentimento
bastava o teu sorriso de um outro dia
nesse instante em que fomos um momento.

Dizer amor como se fosse proibido
entre os meus braços enlaçar-te mais
como um livro devorado e nunca lido.
Será pecado, amor, amar-te demais?

Esperar como se fosse (des) esperar-te,
essa certeza de te ter antes de ter.
Ensaiar sozinho a nossa arte
de fazer amor antes de ser.
Adivinhar nos olhos que não vejo
a sede dessa boca que não canta
e deitar-me ao teu lado como o Douro
aos pés deste Porto que encanta.

Sentir falta de ti por tu não estares
talvez por não saber se tu existes
(percorrendo em silêncio esses altares
em sacrifícios pagãos de olhos tristes).

Ausência, sim. Amor visto por dentro,
certezas ao contrário, por estar só.
Pesadelo no meu sonho noite adentro
quando, ao meu lado, dorme o que não sou.

E, afinal, depois o que ficou
das noites perdidas à procura
de um resto de virtude que passou
por nós em co(r)pos de loucura?
Apenas mais um corpo que marcou
a esperança disfarçada de aventura...
(Da estupidez dos dias já estou farto,
das noites repetidas já cansado.

Mas, afinal, meu Deus, quando é que parto
para começar, enfim, este meu fado?)

No fim deste caminho de pecados
feito de desencontros e de encantos,
de palavras e de corpos já usados
onde ficamos sós, sempre, entre tantos...
Que fique como um dedo a nossa marca
e do que foi um beijo o nosso cheiro
Tesouro que não somos. Fique a arca
que guarde o que vivemos por inteiro.


Fernando Tavares Rodrigues


http://users.isr.ist.utl.pt/~cfb/VdS/f.tav.rodrigues.html

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Gostava de dizer que te amo!


Foto de Paulo Vieira (olhares)

Gostava de dizer que te amo

apenas só porque te amo

e amo, o meu amor por ti!


Gostava de dizer que te amo

não por seres bela, meu amor…

mas porque te amo!


Amo a luz do teu caminho

amo o teu respiro, inalo a tua brisa

e voo em teu redor…


Como estrela sem brilho, inquieta,

que dança, nas flores e na agonia da luz

e se desprende do pó que a mãe pura gera.

E rói… e lentamente rói, sempre rói

o quão profundo é o mar de breu,

num céu, de forças inquietas….


E eu gostava de dizer que te amo

tu não o sabes, és bela, és feliz,

E eu amo-te, porque te amo!


José M. Silva


domingo, 10 de janeiro de 2010

No alto sonho...


Foto autor: Marques (olhares)

No alto sonho

Foi sereia mar

Num dia enfadonho

Num dia ao luar


Num dia ao luar

Um anjo lhe deu

Asas para voar

E subir ao céu


Com as asas voou

E ao céu foi parar

E de lá cantou

Uma melodia do mar


A graça que Deus lhe deu

Tem me posto a sonhar

E na dúvida ando eu

Se quero, ou não acordar


Acordar deste sono leve

Desvanecido à beira-mar

Desta magia que teve

O dom, de saber amar.


José M. Silva




quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Fui assassinado!...


Foto retirada da net

Fui assassinado!... Li-te-ral-me-nte assassinado.

- Como foi? Hum… não me recordo.
Também quem quer recordar a sua morte?!!
Apenas sei, que fui assassinado e ponto.
Sei até quem me matou!... (Num acto frio e calculista)
Mas, que se saiba!... Já não se mata como antigamente.
Ai não mata não! Dantes, ofereciam um cigarro
e deixavam proferir as últimas palavras.
Eram killers sentimentalistas, como o do Sepúlveda.
Agora, ai agora, tá bem tá! Agora, nem a profissão eles honram ou dignificam.
Aqui pra nós, que ninguém nos ouve, muitos, dos verdadeiros capones, pagos a soldo,
devem dar marradas de raiva e desprezo, lá na cova funda,
por causa destas novas gerações de assassinos.
Pudera… também, com tanta falta de profissionalismo.
Não existe, uma formação adequada, qualquer um, nos dias que correm,
pode ser assassino! Faz o RVCC e pronto… já são todos ”doutores”
que é, como quem diz, assassinos, Killers, matadores…
Porém, e em verdade se diga, o cigarro não me fez falta nenhuma,
há dez anos que larguei o vício, depois só me ia fazer mal!
Daí que, do mal, o menos. (afinal não foi assim tão frio)
Quanto às últimas palavras, aí, é que o “gajo” esteve mal, nota –zero.
Pergunto… será o tempo, assim tão valioso? Que o dito,
não pudesse, esperar um pouco e deixar-me dizer umas palavritas!
Podia até proferir uma bela retórica, (não que seja sofista) mas dado
que até me sentia inspirado… num daqueles dias em que as palavras
correm… corre a imaginação, corre a criatividade, enfim, tudo corre!...
E corre, assim sem mais pró quê! – Hehehe, uma das poucas coisas
que me lembro, aquando do meu homicídio (ainda presente na minha memória)
É que foi num dia, em que a imaginação fluía, rio acima, rio abaixo,
descia e subia falécias, esgueirava-se por entre montes e vales,
apanhava, boleia do vento e vinha parar ao lugar de sempre.
Às dunas! Meu deus às dunas… ai as dunas…

Como já deu para perceber, não sou eu que estou a narrar, é ele!
THE MURDERER! THE KILLER!
Vamos lá a ver, ELE que sou EU!… Na realidade EU que sou
ELE ou vice-versa… Para ser sincero, já não sei bem quem sou!
Se ELE ou EU.
Mas, afinal de contas… quem matou quem?..
Será necessária a intervenção do inspector MAIGRET?!!
Ora bem, é sabido que SARAMAGO matou RICARDO REIS.
“Mas eu, que nunca principio nem acabo,
nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.“
Não seria capaz de matar ninguém, muito menos EU ou ELE!
Até porque uma coisa pensa o assassino; outra coisa o assassinado.

José M. Silva

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Na nascente do teu ouro


Foto de Paulo Vieira (olhares)

Na nascente do teu ouro

na liberdade do teu rosto

sou mãos, sem voz na tua sede.

Sou, o ser que reporta o voo nas mãos…


Ascendo dum mundo de mãos

com muros e montanhas de sangue.


Transcrevo no musgo

e no barro, que me aquece a alma

a chama do teu corpo nu.


Regresso em silêncio ao enigma do teu corpo

e percorro o teu rosto com olhos tacteados.

Sigo os trilhos da minha difusa ilusão

e encalho nas tuas veias dançantes…


Sou o verso do tempo, em noites cerradas

rasgo as mãos, na tinta corrente e incendeio,

o corpo vivo. Saturo a alma, rompo o silêncio…


E desenho… redesenho… e voo!

Voo alto, num voo sem destino….


José M. Silva